ARARAT YEREVAN, DA ARMÊNIA

Esse é Football Club Ararat Yerevan, um dos principais e mais populares clube da Armênia e o único clube armênio a vencer um campeonato soviético de futebol.

O clube foi fundado em 1935, sob o nome de Spartak Yerevan, ligado à Sociedade Esportiva Spartak local, vinculada ao seu braço principal, em Moscou. O nome remetia ao gladiador Espártaco, líder da revolta de escravos da Roma Antiga, aproximadamente 70 anos a.C. Sua imagem, no contexto socialista e revolucionário, foi difundida como a de um grande guerreiro libertador, capaz de desafiar a ordem dominante. Essa imagem se encaixava no que Stalin tentava transmitir ao planeta sobre si mesmo.

Aqui cabe lembrar que desde 1922 a Armênia, juntamente com Geórgia e Azerbaijão, fazia parte da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) como parte da República Federativa Socialista Soviética Transcaucasiana.

O primeiro troféu veio a ser a Copa da Armênia em 1940, mas logo depois o clube ficou inativo por quatro anos devido aos à Segunda Guerra Mundial.

Em 1947, a equipe começa a ter certo destaque após um vice-campeonato regional da Transcaucásia. Em 1949, o clube consegue o acesso para a primeira divisão soviética. Sua temporada de estreia na elite do futebol soviético foi apática, figurando em uma modesta 16.º posição de um total de 18 clubes e escapando do rebaixamento por dois pontos. Já na Copa Soviética, uma precoce eliminação para o modesto Dínamo Stalinabad (atualmente Dynamo Dushanbe), do Tajiquistão. Graças a atuações fracas e um time instável, o clube foi rebaixado para a segunda divisão no ano seguinte.

Voltou a primeira divisão em 1960, foi rebaixado novamente em 1964 mas no ano seguinte voltou à elite do futebol soviético, onde permaneceu até a dissolução da União Soviética e consequentemente do campeonato em 1991. 

Em 1953 Josef Stalin faleceu e seu sucessor, Nikita Kruschev, deu início a um longo processo que ficou conhecido como Desestalinização. Em muitas partes da URSS, o efeito mais intenso do processo foi a inflamação de nacionalismos. Um dos mais pujantes se verificou na Armênia. Em 1965 aconteceu uma das maiores demonstrações disso, com as Manifestações de Yerevan.

Neste contesto, em 1963, o esporte registrou outra manifestação. Spartak era um nome vinculado ao Stalinismo e já não era tão necessário manter aparências. Por isso, o clube mudou. Estreitando seus laços com o Cristianismo, religião mais tradicional da Armênia desde o Século IV, passou a se chamar Ararat Yerevan. A referência remonta à Arca de Noé, que, com o recuo das águas e o fim do dilúvio, encalhou no Monte Ararate, em região fronteiriça entre Armênia, Irã e Turquia. Uma montanha vulcânica adormecida, composta por dois picos, que é fortemente associada à cultura, mitologia e identidade armênias. Esses dois picos frequentemente são representados no uniforme do clube. No escudo do clube se lê Ararat, a forma latina do nome do monte, e Ururus, a forma armênia do nome.

Em 1971, o Ararat Erevan conseguiu um surpreende vice-campeonato e em 1972 o clube ficou no quarto lugar da competição. Em 1973, o clube contratou o treinador de origens armênias Mkrtych Simonyan. O novo comandante foi um verdadeiro craque do Spartak Moscou e da seleção soviética, maior artilheiro da história do Spartak Moscou e do Campeonato Soviético. Na época, Simonyan já tinha 10 anos de experiência como treinador, a maior parte desse tempo no Spartak.

Logo na rodada inaugural do Campeonato Soviético de 1973, no dia 7 de abril, ficou claro que o Ararat deveria ser levado a sério. O time recebeu o Dynamo de Kiev, o maior clube da URSS. Na imensidão do Estádio Hrazdan, mais de 64 mil pessoas viram Andreasyan, duas vezes, e Nikolai Kazaryan, garantirem a vitória armênia. Oleg Blokhin descontou para o quadro ucraniano. 

Depois da empolgação da estreia, ajustes se revelaram  necessários após alguns solavancos. O fato é que o Ararat não perdeu nenhuma das últimas nove partidas do Campeonato Soviético. O Ararat entrou na última rodada, diante do Zenit, já campeãos — e mesmo assim bateu o time de Leningrado. Outra vez, mais de 70 mil pessoas abarrotaram o Hrazdan para celebrar. Com 13 gols, Arkadi Andreasyan foi o principal goleador da equipe. Apenas Blokhin (18) e Anatoliy Kozhemyakin (16), do Dinamo Moscou, fizeram mais gols.

Era a primeira conquista de primeiro nível de um time da Armênia, que se tornava a quarta república soviética contemplada. Mas os símbolos, com toda a sua importância, eram ainda maiores. O triunfo mostrou que era possível vencer preservando uma identidade local. O que o Spartak Yerevan não chegou perto de conseguir, o Ararat alcançou. Com Nikita Simonyan, que se confirmou além de homem soviético e ídolo do Spartak Moscou, um orgulhoso armênio.

Paralelamente à disputa do Campeonato Soviético, o Ararat também se apresentou na Copa Soviética de 1973. O Ararat deixou clubes tradicionais pelo caminho, até uma final emocionante contra o Dínamo Kiev, resolvida na prorrogação com um gol aos 103 minutos.

Em 1973, o Ararat concentrou o melhor do futebol soviético. Não fosse a recusa da URSS a viajar para o Chile, que sofrera o golpe de estado liderado por Augusto Pinochet, craques do elenco armênio poderiam ter tido a chance de jogar a Copa do Mundo de 1974. Andreasyan, por exemplo, foi titular na partida de ida diante dos chilenos, em Moscou.

Como defensores do titulo, na temporada 1974-75, foram jogar a Taça dos Clubes Campeões Europeus (Atualmente, conhecida como a Champions League). O clube iniciou a competição na Primeira Fase eliminando o norueguês Viking FK pelo agregado de 6-2; Na Segunda Fase, eliminou o irlandês do Cork Celtic pelo agregado de 7-1 e a derrota chegou apenas nas Quartas-de-Final, onde enfrentaram os futuros campeões, Bayern München. No jogo de ida em Munique, Uli Hoeneß e Conny Torstensson marcaram para os bávaros. Na volta, em Erevan, Arkady Andreasyan marcoou o único gol da partida para os armênios, que apesar da heroica vitória, não foi suficiente para superar o saldo de dois gols alemães.

No ano seguinte, Simonyan deixou o clube, mas o quadro de Yerevan seguia em boas mãos: era Viktor Maslov, um dos revolucionários do futebol soviético, que o liderava. Ele conduziu o time ao título da Copa Soviética de 1975, enfim amarrando todo aquele enredo. 

O clube armênio ainda conseguiu outro vice-campeonato, em 1975-Primavera, em uma época em que o campeonato soviético foi divido em Primavera e Outono, semelhante ao que os outros países sul-americanos fazem hoje em dia com Apertura e Clausura.

Dali a cinco anos, Hamlet Mkhitaryan daria seus primeiros chutes vestindo as cores do Ararat, que anos depois teria um filho famoso chamado Henrikh Mkhitaryan, conhece?

Com a dissolução da União Soviética em 1991, o Ararat Everan passou a jogar no Campeonato Armênio, porém não conseguiu assentar sua unanimidade, tendo vencido a Primeira Divisão apenas uma vez, em 1993, e acumulando um total de quatro vices (1997, 1999, 2000 e 2008). Conquistaram a Copa da Armênia em sseis ocasiões e chegaram em finais em mais duas ocasiões. Desde 1999 o clube é proprietário de um endinheirado suíço-armênio.

Nos últimos anos, o clube se envolveu em polêmicas com o recém criado rival, FC Ararat-Armenia, se posicionando publicamente contra o nome escolhido. O rival, fundado em 2017, atualmente disputa a primeira divisão armênia e foi campeão nas temporadas de 2018/19 e 2019/20, para a decepção do Ararat Yerevan, no primeiro título do novo rival o Ararat Yerevan foi o último colocado da liga.

Como curiosidades, os campeões do campeonato soviético foram Dínamo Kiev, da Ucrânia, com 13 títulos (o último em 1990); Spartak Moscou, da Rússia, com 12 títulos (o último em 1989); Dínamo Moscou, da Rússia, com 11 títulos (o último em 1976 Primavera); CSKA Moscou, da Rússia, com 7 títulos (o último em 1991); Torpedo Moscou, da Rússia, com 3 títulos (o último em 1976 Outono); Dínamo Tbilisi, da Geórgia, com 2 (1964 e 1978); Dnipro Dnipropetrovs'k, da Ucrânia, com 2 títulos (1983 e 1988), Ararat Yerevan, da Armênia, com um título em 1973; Dínamo Minsk, da Bielorrússia, com um título em 1982; Zenit Leningrado (hoje Sr. Petersburg), com um título em 1984 e Zorya Voroshilovhrad, da Ucrânia, com um título em 1972.

Nosso modelo foi montado em lentes de 45mm e arte própria.

Comentários