Em recordação ao Comunistão, campeonato disputado com amigos há exatos dois anos, hoje trago minhas versões dos clubes campeões do campeonato soviético, da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O Fim da URSS desenrolou-se ao longo de anos, a partir do momento em que Mikhail Gorbachev assumiu a liderança do partido comunista soviético, em 1985, até sua renúncia, em 25 de dezembro de 1991, e o subsequente anúncio do fim da URSS no dia seguinte.
Aliás, o que será que ensinam sobre a URSS e a guerra fria nas escolas hoje em dia? E você, sabe do que estou falando? Se quiser, o documentário na Netflix Ponto de Virada: A Bomba e a Guerra Fria pode ajudar. Mas não se limite a isso, a história desse período é fascinante (o que é bem diferente de dizer que a URSS era fascinante - aliás, longe disso).
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) foi um Estado socialista localizado no norte da Eurásia que se estendeu desde os mares Báltico e Negro até o Oceano Pacífico, e que existiu entre os anos de 1917/22 a 1991. Como uma união de várias repúblicas soviéticas subnacionais, a URSS era governada num regime unipartidário comandado pelo Partido Comunista da União Soviética e tinha como sua capital a cidade de Moscou.
A União Soviética teve suas raízes na Revolução Russa de 1917, que depôs a autocracia imperial. Após a revolta, os bolcheviques, liderados por Vladimir Lenin, derrubaram o governo provisório que tinha sido estabelecido. A República Socialista Federativa Soviética Russa foi então criada e a Guerra Civil Russa começou. O Exército Vermelho entrou em diversos territórios do antigo Império Russo e ajudou os comunistas locais a tomarem o poder. Em 1922, os bolcheviques foram vitoriosos, formando a União Soviética, com a unificação das repúblicas soviéticas da Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Transcaucásia. Após a morte de Lenin em 21 de janeiro de 1924, assumiu o poder a liderança coletiva da troica. Entre o final de agosto e início de setembro, ocorreria um conflito político conhecido como Revolta de Agosto e logo depois, naquele mesmo ano, Josef Stalin chegaria ao poder. Stalin associou a ideologia estatal ao marxismo-leninismo e iniciou um regime de economia planificada. Como resultado, o país passou por um período de rápida industrialização e coletivização, muitas vezes pela força, que lançou as bases de apoio para o esforço de guerra posterior e para o domínio soviético após a Segunda Guerra Mundial.
Neste período, a URSS contava com quinze Repúblicas Socialistas Soviéticas, sendo elas Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
Neste contexto, a mais alta divisão do campeonato soviético de futebol chamava-se Vysshaya Liga e era organizada pela federação de futebol da União Soviética. Nesta liga jogavam os clubes mais fortes da URSS, não só da Rússia. Os países membros da URSS mantinham seus campeonatos domésticos, mas eram considerados o terceiro escalão do futebol soviético. O Quirguistão e Turcomenistão, com pouquíssima tradição no futebol até hoje, foram as duas únicas repúblicas que não tiveram nenhum clube presente na Vysshaya Liga durante todas as edições do campeonato.
Os times da capital, Moscou, dominaram a competição desde o seu início, em 1936, até 1961, quando o Dínamo de Kiev, clube de Oleh Blokhin, tornou-se o primeiro clube não-russo a conquistar o título. E foi o clube ucraniano quem terminaria como maior vencedor da competição, com 13 títulos, um a mais do que o segundo maior vencedor da Liga, o Spartak Moscou, time de Igor Netto e Rinat Dasayev. Com um a menos que este, em terceiro, ficou o Dínamo Moscou, onde jogou o lendário Lev Yashin.
A lista completa ficou assim:
Dínamo Kiev, da Ucrânia , 13 títulos - o último em 1990
Spartak Moscou, da Rússia, 12 títulos - o último em 1989
Dínamo Moscou, da Rússia, 11 títulos - o último em 1976 primavera
CSKA Moscou, da Rússia, 7 títulos - o último em 1991
Torpedo Moscou, da Rússia, 3 títulos - o último em 1976 outono
Dínamo Tbilisi, da Geórgia, 2 títulos - o último em 1978
Dnipro Dnipropetrovs'k, da Ucrânia, 2 títulos - o último em 1988
Ararat Erevan, da Arménia, 1 título - 1973
Dínamo Minsk, da Bielorrússia, 1 título - 1982
Zenit Leningrado, da Rússia, 1 título - 1984
Zorya Voroshilovhrad, da Ucrânia, 1 título - 1972
Na soma de títulos por república, a Rússia aparece em primeiro, com 34 títulos, seguida pela Ucrânia, com 16. Em terceiro ficou a Geórgia, com dois títulos - ambos conquistados pelo Dínamo Tbilisi, e em quarto lugar ficaram, cada uma com um título, a Armênia (com a conquista do Ararat Yerevan) e a Bielorrússia (com o título do Dínamo Minsk). Não era raro em jogos do Ararat Yerevan e dos Dínamos de Kiev e Tbilisi manifestações de nacionalismo de suas localidades, principalmente nos anos 80, quando a autoridade soviética se enfraqueceu.
Quase todos os clubes mudaram de nome do decorrer do tempo: o atual CSKA Moscou já se chamou CDKA, CDSA e CSK MO e o Dínamo Minsk já se chamou Belarus Minsk. Com o fim da URSS e a mudança de nomes de cidades, o Traktor Stalingrado virou Rotor Volgogrado, o Zenit Leningrado virou Zenit São Petersburgo, o Krylya Sovetov Kuybyshev, Krlylya Sovetov Samara e o Zorya Voroshlovgrado, Zorya Luhans’k. Sem contar que algumas equipes não-russas costumavam ter seus nomes russificados, caso do azerbaijano Neftçi Baku (em russo, Neftchi Baku; até 1968, chamou-se Neftyanik) e dos ucranianos Dnipro Dnipropetrovs’k e Shakhtar Donets’k (Dnepr Dnepropetrovsk e Shakhtyor Donetsk, respectivamente).
Dois dos Dínamos, o de Kiev e o de Moscou, foram os únicos times a participarem de todas as temporadas do torneio soviético, seguido do Spartak, que ficou de fora de apenas um. Dínamo Tbilisi e Torpedo Moscou estiveram em 51 deles, Zenit em 49 e CSKA em 48.
Os maiores artilheiros da liga foram Sergey Solovyov, com 144 gols em 231 jogos; Nikita Simonyan, com 145 gols em 265 jogos; Alexander Ponomarev, com 153 gols em 268 jogos; e Oleg Blokhin, com 211 gols em 432 jogos.
Paralelamente à Vysshaya Liga, também havia a Copa da União Soviética, fundada em 1936 e extinta em 1992 após 51 edições. Nas últimas temporadas contava com 80 times, batalhando pelo caneco no formato de mata-mata em jogo único, com a grande final no Lenin Central Stadium em Moscou, e com o vencedor garantindo uma vaga na Recopa Europeia. Os clubes com as melhores performances no torneio foram:
Spartak Moscou, que possui 10 títulos,
Dínamo Kiev com 9,
Torpedo Moscou e Dínamo Moscou com 6,
CSKA com 5,
Shakhtar com 4,
Dínamo Tbilisi, Ararat Yerevan e Lokomotiv Moscou com 2,
Zenit, SKA Rostov, Metallist, Karpaty Lviv e Dnipro com 1 título cada.
A Super Copa Soviética também foi outro torneio de curta duração, apenas 7 edições, reunindo o campeão nacional e o campeão da copa local em um jogo em estádio neutro. O Dínamo Kiev teve 3 títulos; Shakhtar, Dnipro, Dínamo Moscou e Zenit tiveram um cada.
Os times que melhor representaram a União Soviética em torneios internacionais foram o Dínamo Kiev, que tem em seu curriculum a Supercopa da UEFA de 1975, onde bateram o Bayern München por 3x0, além de duas Recopas Europeias, em 1974/75 e 1985/86. Quem também fez bonito neste torneio foi o Dínamo Tbilisi que venceu a edição de 1980/81 sobre o Carl Zeiss Jena, da Alemanha Oriental, por 2x1.
Os maiores estádios da época foram o Central Stadium, casa do Dínamo Kiev; o Central Lenin Stadium, compartilhado por CSKA e Spartak Moscow; além do Lenin Dinamo Stadium, onde o Dinamo Tbilisi mandava seus jogos, todos com seus recordes de público acima de 100k pessoas.
A melhor campanha da seleção soviética em Copas do Mundo foi o 4º lugar na Inglaterra em 1966. Além disso, atingiram as quartas de final na Suécia em 1958, Chile em 1962 e México em 1970. Em seu continente, os soviéticos conquistaram a Eurocopa de 1960 na França; vices nas Euros de 1964 na Espanha, 1972 na Bélgica e 1988 na Alemanha, além do 4º lugar na Itália em 1968. No futebol olímpico, conquistaram o ouro em Melbourne em 1956, além de medalhas de bronze em Munique em 1972 e em Montréal em 1976.
Na virada da década de 1970 para a 1980, a URSS via-se na contingência de cortar gastos com guerras e com o fomento de outros países em que o modelo comunista instalara-se, como Cuba. A guerra travada no Afeganistão, país profundamente influenciado pela estrutura de poder comunista soviético na década de 1970, expôs a URSS a uma grande debilidade militar. Forças de resistência islâmica contra a “sovietização” afegã foram armadas e treinadas pelos EUA, mas também passaram a receber auxílio militar da China (que havia rompido com a URSS anos antes), o que conduziu o exército soviético a sucessivas derrotas.
Foi nessa ambiência que houve uma nova eleição no Partido Comunista Soviético, em 1985, na qual foi eleito como novo líder Mikhail Gorbachev. Gorbachev ficou encarregado de promover reformas profundas na estrutura do Estado Soviético, de modo a garantir a subsistência do regime. Entretanto, tais reformas, que receberam o nome de Perestroika (reconstrução), cujo modo de procedência seria a Glasnost (isto é, a transparência), acabaram por dar abertura para a implosão do regime comunista.
O acidente com o reator atômico da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986 rendeu ao governo de Gorbachev transtornos incalculáveis e revelou ao mundo a obsolescência tecnológica soviética. As dificuldades em conter o vazamento nuclear deixaram o continente europeu alarmado, o que gerou a necessidade de ajuda externa, do ocidente, para resolver o problema.
Enquanto fazia tais reformas e enfrentava tais problemas, Gorbachev era pressionado por dois setores das esferas de poder da URSS: o setor da “linha-dura”, comandado por Valentin Pavlov, e o setor considerado liberalizante e progressista, comandado por Boris Yeltsin. Pavlov exigia de Gorbachev uma postura geopolítica mais dura e a manutenção do poder centralizado em torno dos burocratas do partido comunista soviético. Por outro lado, Yeltsin defendia a abertura da URSS para a influência das democracias ocidentais e para a economia de mercado.
Em meio a todo esse clima de pressão, houve a primeira eleição para deputados não comunistas no Congresso Soviético. As medidas adotadas por Gorbachev levaram aqueles menos abertos para as transformações, representados por Pavlov, a uma tentativa de golpe contra Gorbachev em 18 de agosto de 1991. Gorbachev foi preso, o que gerou uma revolta popular e um movimento de resistência liderado por Boris Yeltsin. Os golpistas tiveram de ceder à pressão, libertando Gorbachev, que voltou ao poder, renunciou ao cargo de secretário-geral do partido, mas permaneceu ainda ocupando a função de presidente da União Soviética. Em decorrência do golpe, muitos dos países ligados à URSS começaram a declarar a sua independência, o que provocou uma rápida desintegração do Império Soviético.
Em 25 de dezembro de 1991, Gorbachev finalmente renunciou também ao cargo de presidente, reconhecendo, assim, o fracasso de suas reformas e o colapso da União Soviética. A partir de então, foi formada, entre ex-integrantes das repúblicas soviéticas, a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que implantou o modelo de representação política de acordo com a sua realidade e levou a independência e reestruturação dos demais países da extinta URSS.
Antes que digam que sou canhoto, petista, comunista ou coisa assim, já digo que não sou. Muito pelo contrário, acredito que o liberalismo e o apoio à iniciativa privada é a única solução para o progresso e a estabilidade econômica, porém entendo que a praga atual do país é a corrupção, plantada fundo em todo o sistema político brasileiro atual, seja ele de uma lado ou do outro.
E depois disso tudo, vamos as foteeenhas. Nossa coleção tem todos os campeões do campeonato soviético (Vysshaya Liga): Dínamo Kiev (Ucrânia), Spartak Moscou (Rússia), Dínamo Moscou (Rússia), CSKA (Rússia), Torpedo (Rússia), Dnipro Dnipropetrovsk (Ucrânia), Zenit (Rússia), Dínamo Tbilisi (Geórgia), Zorya Voroshilovhrad (Ucrânia), Ararat Yerevan (Armênia) e Dínamo Minsk (Bielorússia). Também temos o Lokomotiv Moscou e o Shakhtar Donetsk, que não venceram a Liga, mas venceram a Copa - ou quase.
Sobre o campeonato que falei no início da matéria, o Comunistão, perdi a partida de estreia para o Apoel de virada, 2x1. Depois venci todos os jogos e na última rodada fiquei com a melhor campanha da primeira fase, um ponto à frente do mesmo Apoel, do amigo Albertino. Garanti assim minha vaga na final, enquanto o Apoel teve que disputar uma semifinal contra o Dinamo Minsk, do Luís. Enfrentei o Apoel novamente na final, o único que havia me vencido e adivinhe só: Tomei um chocolate, 4x0 e Apoel e Albertino campeão!
Todos os modelos acima são de fabricação própria em lentes de 45mm.
Muita história boa Eduardo. Parabéns pela pesquisa e pelos times, muito bem feitos.
ResponderExcluirObrigado!!
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